segunda-feira, 9 de julho de 2012

Nuvens


Foi devagarinho que fui sentindo chegar o tão esperado regresso e que, passo por passo, conjugando a saudade do que fica e a inevitável felicidade do que virá, fui arrumando toda uma nuvem de sentimentos e desejos.
Pelo caminho, outras nuvens foram surgindo. As nuvens que se vêm através da pequena janela do avião e as nuvens que se vêm através da janela do carro. Tamanho contraste. Primeiro, um tapete de nuvens brancas que fazem lembrar algodão doce; depois uma imensa nuvem de fumo carregada de tonalidades sombrias. Nada agradável!
Infelizmente é esta nuvem de tonalidades sombrias que faz questão de me acompanhar quase até à porta de casa. São estas nuvens e as paisagens devastadas que mais despertam a minha atenção durante aquela viagem e que vão deixando os meus desejos um pouco à deriva.
Por mais que já estivesse à espera, não deixa de ser triste e desolador. Mas é mesmo assim regressar a Portugal no Verão. De repente, voltar a recordar que esta nuvem cinzenta vai pairar dia após dia, ano após ano. É duro demais.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Despedida à chuva

Dolphins, Stoke Gabriel: a chuva, o sol, o arco-íris, as estrelas e eu
Foi embora o Maio e com o Junho regressou a chuva. Está cheia de energia, quer recuperar todo o tempo que perdeu e, para se vingar, não deixa sequer que uma pontinha de sol a acompanhe.
Consequentemente, aquelas magnificas sete cores  em arco que frequentemente apareciam no horizonte e que davam outro ânimo ao fim do dia, deixaram de se ver.
Lá em cima, no céu, as estrelas estão umas dorminhocas. Agora é preciso esperar pelas 10:30 pm para as ver brilhar. Mas vale a pena esperar. É um céu limpo como não é muito fácil de encontrar.
E eu estou de partida. Vou ao encontro do sol. Mas levo-te comigo.

sábado, 16 de junho de 2012

Anywhere

As coisas impressionantes que há. Em qualquer parte do mundo, há sempre alguém com a extraordinária capacidade de ler nas entrelinhas.
*Please, do not feed the animals / *Por favor, não dê comida aos animais
Esta será provavelmente a mensagem mais conhecida de todos os que frequentam jardins, parques, jardins zoológicos,… E, esteja escrita em que língua estiver, muitas pessoas conseguem deslindar que, o que a mensagem pretende transmitir exatamente é: Os animais estão esfomeados. Por favor, dê-lhes alguma coisinha que comer.
É por isto e só por isto que por vezes (muitas vezes) (DEMASIADAS VEZES!) se vêem pessoas a dar pão aos patos, migalhas aos pombos, bolachas aos ursos,…  Tudo não passa de uma hábil capacidade de ler nas entrelinhas. MAS, se o leitor não possui esta capacidade, por favor não fique preocupado. Estou certa de que terá outras capacidades até melhores.
*Please, keep your dog on a lead / *Por favor, mantenha o seu cão pela trela
Mais uma vez, uma dedução sábia que se tira nas entrelinhas: Por favor deixe o seu cão ir brincar com os animais. E de repente, alguém que não possui esta capacidade pergunta: Mas quem é que permitiu que o cão fosse perturbar os animais??
São simplesmente meras questões de interpretação. Em qualquer parte…

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Seasons

E porque tudo muda, achei que devia voltar a Berry Head.
O lugar tímido e de tonalidades sóbrias onde as aves cantam a medo, que conheci em Fevereiro, tirou o casaco, arrumou o guarda-chuva e transformou-se num alegre e vistoso palco.  
Orquídeas, falcões peregrinos, airos e golfinhos são os protagonistas nesta época do ano.
As orquídeas, espalhadas pelo solo, vestem-no de beleza e magia. Os airos, esses tagarelas que revestem parte da falésia, discutem a vida dos vizinhos incessantemente. Claro que também fazem uma ou outra pausa de vez em quando para pescar. Os falcões mantêm a sua pose séria e indiferente. No vaguear dos seus pensamentos talvez se interroguem em que é que os airos tanto falam! E depois no mar, estão os golfinhos a brincar. São as estrelas do último ato.
Vontade de assistir?  Não há dois espectáculos iguais. Porém, se todos formos responsáveis, estes artistas poderão continuar a  atuar e reinventar novas peças a cada dia durante vários anos.  
Afinal, é só mais um lugar demasiado especial. Precisa que o tratem bem e que o deixem repousar.

domingo, 13 de maio de 2012

Footprints

Parou de chover há três dias e neste recanto onde o rio se começa a aproximar do mar já se sente a diferença.
O nível da água baixou e vêem-se agora centenas, talvez milhares, de pegadas desenhadas no lodo. São pegadas de aves na sua maioria e uma ou outra de lontra. São as marcas das suas delicadas patas que aqui ficam impressas nesta espécie de lama. Nada de grave. Mostram apenas trilhos, o caminho que cada um seguiu.
Contudo deparei-me também com outras pegadas. São pegadas um tanto ou quanto estranhas, devo dizer. Ainda não consegui encontrar nada sequer parecido em nenhum dos meus guias de campo.  Talvez o leitor possa dar uma ajuda.
Pois bem, uma dessas esquisitas pegadas assemelhava-se a uma embalagem de plástico ainda com alguma coloração e cujo conteúdo teria sido um dia bolachas digestivas (para peixes, obviamente!). Mas dói-me muito pensar que o peixe tenha deixado ali aquele plástico, afinal ele sabe que há locais próprios para o depositar.
Outra intrigante pegada surgiu um pouco mais adiante e parecia-se com uma lata de um qualquer refrigerante. Como foi a lontra capaz de uma atrocidade destas? Também posso estar a ser injusta. Talvez ela não tivesse terminado a sua bebida e deixou ali a lata para beber mais tarde. Pode ter sido isso…
Nas margens do rio, os arbustos abrigam dezenas de sacos plásticos, garrafas e outras pegadas igualmente estranhas. Isto de certeza que foi obra dos patos. Todos sabemos que eles se divertem imenso com este tipo de brinquedos.
Parece-me que algo de muito grave e preocupante está a acontecer à vida dulçaquícola e marinha. Estes animais estão a adotar um comportamento inqualificável. Sim, os animais. Porque eu não acredito que nenhum de nós pense que os rios e os oceanos aproveitam o nosso lixo.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Give Way

Passou um ano desde o nosso primeiro encontro.
Faz precisamente hoje um ano que tive um dos momentos mais mágicos de toda a minha vida. O encontro com uma baleia.
Estávamos em pleno Atlântico. O Sol já se escondera; o escuro começava a pairar. E é neste lusco-fusco que, sem qualquer aviso, uma baleia resolve aparecer.
Uma baleia-de-bryde a vaguear sozinha, feliz e independente. Um magnífico sopro a celebrar aquele fim de tarde.
O veleiro parou e deixou-se à deriva por instantes, enquanto aquela baleia seguia o seu rumo, voltando a erguer uma porção de água um pouco mais à frente. Eu estava absorta, como se não existisse mais nada à minha volta. Tinha prometido uma fotografia porém, nem me lembrei de pegar na máquina. Continuava perplexa. Só conseguia olhar para Ela e absorver tudo o que acontecia. Afinal, era uma baleia! Consegues perceber? É que não se tem um encontro destes todos os dias…
Mas não duvides! Mesmo sem fotografias, eu vou lembrar todos os contornos daquele cenário impossível de esquecer.
Hoje, um ano depois, onde andarás tu a vaguear? Poderei eu encontrar-te aqui também?

terça-feira, 1 de maio de 2012

miss you

Não te ouço. Não te consigo ouvir. O que é que se passa? Faz demasiado frio aqui, é isso?
Bem, se é pelo frio, eu compreendo. Mas não deixo de sentir a tua falta.
Estiveste sempre bem perto de mim. Desde que me lembro, mesmo desde criança. Observando tudo à tua volta lá do alto do teu ninho ou pousada nos arrozais, em busca de algum pequeno vertebrado mais desatento.
De repente, tudo muda. Não te vejo nem te ouço. E já lá vai tanto tempo que eu me encontro sem ti. Tenho saudades. Sim, tenho muitas saudades.
Aqui também estou rodeada de aves mas não há nenhuma que, como tu, me desperte com o seu frenético noc-noc-noc-noc-noc-noc ao bater o bico. Isso só tu sabes fazer!
O meu acordar não é o mesmo sem ti. Os meus passeios não podem ser iguais.
E mesmo não sabendo se aprecio mais a tua vaidade ou o teu jeito preguiçoso, a verdade é que sinto a tua falta e sinto falta do que me fazes sentir.
…wishing to see you soon :-)

terça-feira, 24 de abril de 2012

Millpond, Stoke Gabriel

Se há lugares que foram pensados para que pudessem ser contemplados, este é seguramente um deles. Uma incontornável harmonia de sons e cores. A serenidade que inspira estar aqui. Sentar, escutar, ver e sentir. O que poderia ser melhor?
Mas como pode a vida frenética da mãe-Natureza inspirar tanta tranquilidade? Olhando em redor, vejo o corrupio e a agitação dos animais e das plantas organizando as suas vidas.
A alvéola-branca baloiça a cauda e arrecada as migalhas deixadas nas mesas do River Shack enquanto o pato-real vagueia em busca das que ficaram esquecidas pelo chão. As gaivotas, vorazes, espreitam atentas pelo canto do olho, planeando a estratégia de ataque.
O ganso-do-egito veio fazer uma visita. Por momentos, deixa-se contagiar pela beleza deste local e consegue tirar os olhos da sua Jane, que o acompanhou até aqui.  Estão ambos deslumbrados.
Num recanto da margem do rio, a mamã e o papá cisnes incubam os seus ovos à vez. Na semana passada estavam atarefados a compor o ninho. Daqui por uns dias, estarão com as suas crias, preocupados em encontrar alimento.
E como de costume, num segundo tudo volta a mudar. Um enorme chuveiro cai sobre mim e o meu molho de folhas rabiscadas. É hora de regressar a casa.

domingo, 22 de abril de 2012

Fluffy tails

Esquilos. Quantos esquilos-cinzentos há no mundo? Onde estão os nossos esquilos-vermelhos?
Hoje vou falar dos meus novos amiguinhos. Dos amigos que fiz há cerca de quatro meses.
Eu não sei quantos esquilos-cinzentos o mundo tem. Não sei. Mas aqui aonde eu moro e aonde quer que eu vá, eu sei que os vou encontrar. Pode ser apenas um, pode ser um par, pode ser até mais do que um par. Onde? Ora, isso também não é difícil. Nas florestas, nos jardins ou em qualquer outro sitio onde haja um par de árvores com comidinha a gosto. Ora a saltitar para cima e para baixo através dos ramos, ora a atravessar a estrada [Tenham cuidado! - estou-lhes sempre a dizer que é muito perigoso. - Antes de atravessarem, devem olhar para os dois lados com muita atenção.], ora a pular nos gradeamentos de madeira que acompanham os trilhos, ora…
Sempre a saltitar. Saltam, saltam e voltam a saltar. Para cima ou para baixo, sempre de um lado para o outro. Por vezes, também param para comer. Oh… E como são engraçados a comer. Oh! E como são engraçados a saltitar. Outras vezes há ainda em que simplesmente param para escutar e olhar quem lá vem. Ficam de pé, as patitas da frente à altura do peito como quem faz malha, a cauda farfalhuda a acompanhar o dorso, as bochechas salientes como que cheias de bolotas e os olhos e as orelhas, atentos, postos no caminho. Se alguém se aproximar demasiado, voltam a correr.
Mas onde ficam os esquilos-vermelhos no meio de tanto esquilo-cinzento?
Hey! Eu também gosto muito do nosso esquilo-vermelho!...

domingo, 15 de abril de 2012

Mr. & Mrs. Jones

Era uma vez um pombo chamado Francis Jones.
Era um pombo-torcaz e vivia no bosque, na outra margem do rio. Victoria (Jones) era a sua namorada favorita, pois como sabem, os pombos têm várias namoradas ao longo da vida!
Mas Victoria foi a namorada que mais o marcou. Foi a namorada mais especial e dedicada que teve. A que preparou o ninho mais acolhedor que ele alguma vez vira – ainda que simples – e a que melhor aconchegava os seus dois filhos: Aish e Pete Jones, também conhecidos por Pam e Pim.
Contudo, a residência oficial de Victoria estava a muitas milhas de distância do bosque de Francis Jones.
Mr. Jones conheceu Victoria numa das suas viagens a Portugal. Ah… E como ele gostava do clima de Portugal! Do sol e dos dias luminosos.
Pam, quando cresceu, voou para junto de Francis. Porém, Pim preferiu ficar em Portugal e desvelar as florestas lusas com a sua mãe.
Pam adorava viver em Inglaterra. Pim, por seu turno, adorava viver em Portugal e divertia-se a enviar postais para a irmã e para o pai sempre que descobria um novo spot.
Mr. Jones tinha toda a sua vida no bosque, na outra margem do rio. Alguns familiares, muitos amigos, saborosos grãos e água, muita água. Mas não foi só isso que o fez ficar. Mr. Jones também tinha uma causa a defender. Ele sentia que não podia abandonar o seu país depois do declínio que a população sofrera uns anos antes, quando ele ainda era um juvenil. Ele temia que a situação se repetisse e queria estar lá para lutar pela sua espécie.
No entanto, sempre que conseguia, arranjava uma desculpa e escapava-se para ir passar uns dias a Portugal e rever a doce Victoria, que também sentia muito a sua falta.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Ainda penso em ti

Não sei quanto tempo passou, mas eu ainda me lembro de ti. Às vezes, penso mesmo em ti. Tão sozinha e sossegada naquela fria manhã de Inverno. O que te teria acontecido? Quem te perdeu?
10:10 – deitada sobre a areia humedecida, voltada para a fraca ondulação naquela zona onde o rio encontra o mar;
11:11 – deitada sobre a areia humedecida, voltada para a fraca ondulação naquela zona onde o rio encontra o mar;
12:12 – deitada sobre a areia humedecida, estavas exactamente como antes.
Não fiquei para as 13:13, 14:14 nem 15:15. Tu ias continuar voltada para aquela zona de fraca ondulação e eu já não podia fazer nada.
Ninguém fez nada. Ninguém soube ou vai saber o que aconteceu. Ninguém soube ou vai saber o porquê e eu ainda me pergunto porque estarias tu a olhar tão fixamente para aquela água.
Não encontrei ninguém da tua família nem dos teus amigos, ou sequer alguém mais afastado. E até hoje, ainda não tive o prazer de encontrar uma foca em socialização ou em repouso, em deslocação ou em alimentação.
Seja como for... Vou continuar a procurar. 

domingo, 8 de abril de 2012

Where is Gruffalina?

Gruffalina é o nome dado ao coelho, ou coelha, ou coelhinho que quase todos os dias nos surpreende no jardim, ou no quintal, ou nos campos.
Não tem olhos vermelhos nem pelo branquinho. Tem antes umas orelhas arrebitadas e uma brilhante coloração acastanhada.
Gruffalina é um coelho, ou coelha, ou coelhinho mágico. Quando as crianças estão tristes basta dizer Vamos procurar a Gruffalina! E os seus rostos modificam de imediato em jeito de interesse, curiosidade e expectativa. Quando as crianças estão a chorar basta dizer Olha! A Gruffalina está ali. E de súbito, toda a energia utilizada na produção de lágrimas se dissipa e surge um olhar atento por detrás do vidro da janela.
Aqui, todos gostam da Gruffalina. Todas as crianças e todos os adultos. E a Gruffalina, se falasse a nossa língua, também iria dizer que gosta muito de todos nós. Vê-se quando ela salta!
Hoje é dia de Páscoa. Gruffalina, onde escondeste os nossos ovos?

domingo, 1 de abril de 2012

Springtime

Parti no mesmo dia em que a primavera chegou.
Fui para onde não há primavera. Onde o ar é (quase) sempre quente. Onde as pessoas não têm tempo para sentir falta da primavera. [Como é que é possível as pessoas viverem sem a primavera? No entanto, para muitas pessoas, simplesmente não há primavera.] Onde as pessoas nem se apercebem que há aves, simplesmente porque não as conseguem ouvir. Ou porque estão um pouco ocupadas. Desatentas?
Mas estou de volta. Dez ou onze dias depois do calor do deserto, volto a casa e tudo está diferente. É primavera! 
Sentada no mesmo banco, no jardim, já nada é igual. Os pássaros têm novas melodias, as árvores e os arbustos estão cobertos de flores, os esquilos não param de saltitar e o gaio diz good morning. Uma nova colecção de sons, cores e cheiros que só a primavera nos sabe dar.
Apenas o vento continua a soprar indiferente.

Are you happy?

Hoje andei de camelo. Chamava-se Shamppo.
Não perguntei como se escrevia e, muito provavelmente não é assim mas a pronúncia é algo como Tcham-pô. Também não perguntei se o nome tinha algum significado especial. Não que não me tenha lembrado; simplesmente estava assutada e até algo confusa, baralhada…
Aquele camelo não me parecia muito feliz. E não me estou a referir somente ao ar triste que ele tinha pois para mim, qualquer camelo que não se esteja a deliciar com o seu prato preferido, tem sempre um ar bastante triste. Não, aquele camelo, vestido a rigor, quase sem dentes, possivelmente já velho e cansado, parecia realmente triste.
Estaria ele contente com a profissão que escolheram para ele? Teria sido essa a sua vontade? Terá ele um ordenado justo?
Definitivamente acho que não. Durante aqueles cinco minutos em que o Shamppo me passeou e em que eu tentava  estabelecer uma comunicação, depois de alguma insistência, lá conseguir obter um “luuuuuv”. Ainda assim, nada de muito convincente.

30 de Março de 2012

domingo, 11 de março de 2012

Dolphins, Stoke Gabriel

Já é noite. Apetece-me sentar no jardim. Eu, o meu chá, o meu chocolate e o meu portátil.
Está uma noite maravilhosa, serena. As estrelas no céu. Uma coruja algures. Os patos no rio. As rãs no charco. As árvores e os arbustos à minha volta.
No escuro, enquanto bebo o meu chá e me delicio com todos os sons e sombras que consigo captar, o meu chocolate ficou esquecido.
Todos parecem saber onde é o seu lugar. E eu… Eu também estou bem aqui.
Esta noite, podia ficar aqui até de manhã.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

The sounds of forest. The sound of life.

05h40: triiim-triiim-triiim-triiim
O despertador diz que está na hora de acordar. Calçamos as botas e partimos para a floresta, onde nos podemos perder, ou encontrar.
As ruas estão desertas. Só se ouvem as gralhas…
Ao passarmos pelo rio, ainda com gelo, somos surpreendidos por uma garça-real a pescar. Esta assusta-se… Pedimos desculpa! Não temos qualquer intenção de incomodar… E seguimos, para não perturbar mais.
Quando olhamos para trás, reparamos que ela está de volta. Uufa! Sorrimos e recomeçamos a caminhar, felizes.
Estamos quase a chegar e a porta, como sempre, está aberta. Não é preciso perguntar se podemos entrar, mas por uma questão de respeito (e boa educação), pedimos licença.  O pica-pau-malhado-grande aprecia o gesto e deixa-se permanecer ali, pousado no tronco, enquanto nós o admiramos.
Estamos metidos na floresta. Agora somos só nós, as árvores, os arbustos, as flores e os animais. Pisamos o solo húmido, coberto de folhas e alguns ouriços que foram caindo dos castanheiros. Pomos um pé diante do outro, lentamente e com atenção para não danificar nada.
Conseguimos ouvir um cuco e uma coruja. Do rio chegam as conversas do pato-real, da tadorna e do ganso-de-faces-pretas.
Por todo o lado esvoaçam centenas de passeriformes. Ora pousam em ramos, ora pousam em arbustos, ora pousam no chão, bem perto de nós. Felizmente não se estão a sentir ameaçados. “Posso tirar-te uma fotografia?”, pergunto por fim. Ele balouça, voa para a árvore e pousa num pequeno ramo como se dissesse “Tira agora!”. Depois, volta a voar… (Como deve ser bom ter asas, penso, mais uma vez!)
… E nós voltamos à nossa caminhada. Somos acompanhados por pombos-torcazes e gralhas que estão sempre a meter conversa connosco!
 Sentamos num banco improvisado e contemplamos o rio: há um corvo-marinho-de-faces-brancas a limpar a plumagem. De repente, um imenso som vindo dos arbustos faz-nos voltar ao caminho, mas em vão. Já não conseguimos ver nada!
Estamos quase a terminar. O esquilo-cinzento não quer ser visto. Talvez ainda seja muito cedo para brincar! Ou… Talvez ele queira que nós voltemos mais vezes!... Mas por agora, está mesmo na hora de regressar.
E saímos pela outra porta, igualmente aberta, com a certeza de que, para trás, deixámos apenas as nossas pegadas. Connosco levamos uma fotografia e toda a energia que absorvemos durante estas três incríveis horas, na vossa companhia. 

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Are moorhens shy?

É noite. Junto a um lago ouve-se um “kyorrrl!” e alguém te diz “é uma galinha-de-água.”. Paras e ficas à espera de a ouvir novamente. Depois, aguardas para a conseguir ver sob a luz do luar e das estrelas, escondida algures entre a densa vegetação.  O vento sopra e os arbustos bailam. Faz-se silêncio.
Mais tarde, longe, relembras esse encontro; regressas e voltas a ouvir o mesmo “kyorrrl!” que te mantém acordado. Ingenuamente, pensas que todo o mundo se pode apaixonar tal como tu. Mas afinal, o que tem de especial uma pequena ave de cor escura e patas verdes?
Mais longe, durante o dia, enquanto passeias distraidamente, ouves um “Kyorrrl!” ao fundo. Começas a correr e és surpreendido por uma família que nada descontraída. Relembras o primeiro encontro. Relembras vários outros encontros, o entusiasmo e as recordações que cada um te trouxe. Tão simples e tão maravilhoso.
Tu sabes que não a podes encontrar em toda a parte. Ainda assim, há muitos lugares onde a podes ouvir e ela dar-te-á sinal sempre que estiver presente. Pode ter outros nomes e até outros hábitos, mas será sempre muito especial. Pelo menos, é esse o meu desejo.
A última vez… Estava no rio Dart.