terça-feira, 24 de abril de 2012

Millpond, Stoke Gabriel

Se há lugares que foram pensados para que pudessem ser contemplados, este é seguramente um deles. Uma incontornável harmonia de sons e cores. A serenidade que inspira estar aqui. Sentar, escutar, ver e sentir. O que poderia ser melhor?
Mas como pode a vida frenética da mãe-Natureza inspirar tanta tranquilidade? Olhando em redor, vejo o corrupio e a agitação dos animais e das plantas organizando as suas vidas.
A alvéola-branca baloiça a cauda e arrecada as migalhas deixadas nas mesas do River Shack enquanto o pato-real vagueia em busca das que ficaram esquecidas pelo chão. As gaivotas, vorazes, espreitam atentas pelo canto do olho, planeando a estratégia de ataque.
O ganso-do-egito veio fazer uma visita. Por momentos, deixa-se contagiar pela beleza deste local e consegue tirar os olhos da sua Jane, que o acompanhou até aqui.  Estão ambos deslumbrados.
Num recanto da margem do rio, a mamã e o papá cisnes incubam os seus ovos à vez. Na semana passada estavam atarefados a compor o ninho. Daqui por uns dias, estarão com as suas crias, preocupados em encontrar alimento.
E como de costume, num segundo tudo volta a mudar. Um enorme chuveiro cai sobre mim e o meu molho de folhas rabiscadas. É hora de regressar a casa.

domingo, 22 de abril de 2012

Fluffy tails

Esquilos. Quantos esquilos-cinzentos há no mundo? Onde estão os nossos esquilos-vermelhos?
Hoje vou falar dos meus novos amiguinhos. Dos amigos que fiz há cerca de quatro meses.
Eu não sei quantos esquilos-cinzentos o mundo tem. Não sei. Mas aqui aonde eu moro e aonde quer que eu vá, eu sei que os vou encontrar. Pode ser apenas um, pode ser um par, pode ser até mais do que um par. Onde? Ora, isso também não é difícil. Nas florestas, nos jardins ou em qualquer outro sitio onde haja um par de árvores com comidinha a gosto. Ora a saltitar para cima e para baixo através dos ramos, ora a atravessar a estrada [Tenham cuidado! - estou-lhes sempre a dizer que é muito perigoso. - Antes de atravessarem, devem olhar para os dois lados com muita atenção.], ora a pular nos gradeamentos de madeira que acompanham os trilhos, ora…
Sempre a saltitar. Saltam, saltam e voltam a saltar. Para cima ou para baixo, sempre de um lado para o outro. Por vezes, também param para comer. Oh… E como são engraçados a comer. Oh! E como são engraçados a saltitar. Outras vezes há ainda em que simplesmente param para escutar e olhar quem lá vem. Ficam de pé, as patitas da frente à altura do peito como quem faz malha, a cauda farfalhuda a acompanhar o dorso, as bochechas salientes como que cheias de bolotas e os olhos e as orelhas, atentos, postos no caminho. Se alguém se aproximar demasiado, voltam a correr.
Mas onde ficam os esquilos-vermelhos no meio de tanto esquilo-cinzento?
Hey! Eu também gosto muito do nosso esquilo-vermelho!...

domingo, 15 de abril de 2012

Mr. & Mrs. Jones

Era uma vez um pombo chamado Francis Jones.
Era um pombo-torcaz e vivia no bosque, na outra margem do rio. Victoria (Jones) era a sua namorada favorita, pois como sabem, os pombos têm várias namoradas ao longo da vida!
Mas Victoria foi a namorada que mais o marcou. Foi a namorada mais especial e dedicada que teve. A que preparou o ninho mais acolhedor que ele alguma vez vira – ainda que simples – e a que melhor aconchegava os seus dois filhos: Aish e Pete Jones, também conhecidos por Pam e Pim.
Contudo, a residência oficial de Victoria estava a muitas milhas de distância do bosque de Francis Jones.
Mr. Jones conheceu Victoria numa das suas viagens a Portugal. Ah… E como ele gostava do clima de Portugal! Do sol e dos dias luminosos.
Pam, quando cresceu, voou para junto de Francis. Porém, Pim preferiu ficar em Portugal e desvelar as florestas lusas com a sua mãe.
Pam adorava viver em Inglaterra. Pim, por seu turno, adorava viver em Portugal e divertia-se a enviar postais para a irmã e para o pai sempre que descobria um novo spot.
Mr. Jones tinha toda a sua vida no bosque, na outra margem do rio. Alguns familiares, muitos amigos, saborosos grãos e água, muita água. Mas não foi só isso que o fez ficar. Mr. Jones também tinha uma causa a defender. Ele sentia que não podia abandonar o seu país depois do declínio que a população sofrera uns anos antes, quando ele ainda era um juvenil. Ele temia que a situação se repetisse e queria estar lá para lutar pela sua espécie.
No entanto, sempre que conseguia, arranjava uma desculpa e escapava-se para ir passar uns dias a Portugal e rever a doce Victoria, que também sentia muito a sua falta.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Ainda penso em ti

Não sei quanto tempo passou, mas eu ainda me lembro de ti. Às vezes, penso mesmo em ti. Tão sozinha e sossegada naquela fria manhã de Inverno. O que te teria acontecido? Quem te perdeu?
10:10 – deitada sobre a areia humedecida, voltada para a fraca ondulação naquela zona onde o rio encontra o mar;
11:11 – deitada sobre a areia humedecida, voltada para a fraca ondulação naquela zona onde o rio encontra o mar;
12:12 – deitada sobre a areia humedecida, estavas exactamente como antes.
Não fiquei para as 13:13, 14:14 nem 15:15. Tu ias continuar voltada para aquela zona de fraca ondulação e eu já não podia fazer nada.
Ninguém fez nada. Ninguém soube ou vai saber o que aconteceu. Ninguém soube ou vai saber o porquê e eu ainda me pergunto porque estarias tu a olhar tão fixamente para aquela água.
Não encontrei ninguém da tua família nem dos teus amigos, ou sequer alguém mais afastado. E até hoje, ainda não tive o prazer de encontrar uma foca em socialização ou em repouso, em deslocação ou em alimentação.
Seja como for... Vou continuar a procurar. 

domingo, 8 de abril de 2012

Where is Gruffalina?

Gruffalina é o nome dado ao coelho, ou coelha, ou coelhinho que quase todos os dias nos surpreende no jardim, ou no quintal, ou nos campos.
Não tem olhos vermelhos nem pelo branquinho. Tem antes umas orelhas arrebitadas e uma brilhante coloração acastanhada.
Gruffalina é um coelho, ou coelha, ou coelhinho mágico. Quando as crianças estão tristes basta dizer Vamos procurar a Gruffalina! E os seus rostos modificam de imediato em jeito de interesse, curiosidade e expectativa. Quando as crianças estão a chorar basta dizer Olha! A Gruffalina está ali. E de súbito, toda a energia utilizada na produção de lágrimas se dissipa e surge um olhar atento por detrás do vidro da janela.
Aqui, todos gostam da Gruffalina. Todas as crianças e todos os adultos. E a Gruffalina, se falasse a nossa língua, também iria dizer que gosta muito de todos nós. Vê-se quando ela salta!
Hoje é dia de Páscoa. Gruffalina, onde escondeste os nossos ovos?

domingo, 1 de abril de 2012

Springtime

Parti no mesmo dia em que a primavera chegou.
Fui para onde não há primavera. Onde o ar é (quase) sempre quente. Onde as pessoas não têm tempo para sentir falta da primavera. [Como é que é possível as pessoas viverem sem a primavera? No entanto, para muitas pessoas, simplesmente não há primavera.] Onde as pessoas nem se apercebem que há aves, simplesmente porque não as conseguem ouvir. Ou porque estão um pouco ocupadas. Desatentas?
Mas estou de volta. Dez ou onze dias depois do calor do deserto, volto a casa e tudo está diferente. É primavera! 
Sentada no mesmo banco, no jardim, já nada é igual. Os pássaros têm novas melodias, as árvores e os arbustos estão cobertos de flores, os esquilos não param de saltitar e o gaio diz good morning. Uma nova colecção de sons, cores e cheiros que só a primavera nos sabe dar.
Apenas o vento continua a soprar indiferente.

Are you happy?

Hoje andei de camelo. Chamava-se Shamppo.
Não perguntei como se escrevia e, muito provavelmente não é assim mas a pronúncia é algo como Tcham-pô. Também não perguntei se o nome tinha algum significado especial. Não que não me tenha lembrado; simplesmente estava assutada e até algo confusa, baralhada…
Aquele camelo não me parecia muito feliz. E não me estou a referir somente ao ar triste que ele tinha pois para mim, qualquer camelo que não se esteja a deliciar com o seu prato preferido, tem sempre um ar bastante triste. Não, aquele camelo, vestido a rigor, quase sem dentes, possivelmente já velho e cansado, parecia realmente triste.
Estaria ele contente com a profissão que escolheram para ele? Teria sido essa a sua vontade? Terá ele um ordenado justo?
Definitivamente acho que não. Durante aqueles cinco minutos em que o Shamppo me passeou e em que eu tentava  estabelecer uma comunicação, depois de alguma insistência, lá conseguir obter um “luuuuuv”. Ainda assim, nada de muito convincente.

30 de Março de 2012