domingo, 13 de maio de 2012

Footprints

Parou de chover há três dias e neste recanto onde o rio se começa a aproximar do mar já se sente a diferença.
O nível da água baixou e vêem-se agora centenas, talvez milhares, de pegadas desenhadas no lodo. São pegadas de aves na sua maioria e uma ou outra de lontra. São as marcas das suas delicadas patas que aqui ficam impressas nesta espécie de lama. Nada de grave. Mostram apenas trilhos, o caminho que cada um seguiu.
Contudo deparei-me também com outras pegadas. São pegadas um tanto ou quanto estranhas, devo dizer. Ainda não consegui encontrar nada sequer parecido em nenhum dos meus guias de campo.  Talvez o leitor possa dar uma ajuda.
Pois bem, uma dessas esquisitas pegadas assemelhava-se a uma embalagem de plástico ainda com alguma coloração e cujo conteúdo teria sido um dia bolachas digestivas (para peixes, obviamente!). Mas dói-me muito pensar que o peixe tenha deixado ali aquele plástico, afinal ele sabe que há locais próprios para o depositar.
Outra intrigante pegada surgiu um pouco mais adiante e parecia-se com uma lata de um qualquer refrigerante. Como foi a lontra capaz de uma atrocidade destas? Também posso estar a ser injusta. Talvez ela não tivesse terminado a sua bebida e deixou ali a lata para beber mais tarde. Pode ter sido isso…
Nas margens do rio, os arbustos abrigam dezenas de sacos plásticos, garrafas e outras pegadas igualmente estranhas. Isto de certeza que foi obra dos patos. Todos sabemos que eles se divertem imenso com este tipo de brinquedos.
Parece-me que algo de muito grave e preocupante está a acontecer à vida dulçaquícola e marinha. Estes animais estão a adotar um comportamento inqualificável. Sim, os animais. Porque eu não acredito que nenhum de nós pense que os rios e os oceanos aproveitam o nosso lixo.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Give Way

Passou um ano desde o nosso primeiro encontro.
Faz precisamente hoje um ano que tive um dos momentos mais mágicos de toda a minha vida. O encontro com uma baleia.
Estávamos em pleno Atlântico. O Sol já se escondera; o escuro começava a pairar. E é neste lusco-fusco que, sem qualquer aviso, uma baleia resolve aparecer.
Uma baleia-de-bryde a vaguear sozinha, feliz e independente. Um magnífico sopro a celebrar aquele fim de tarde.
O veleiro parou e deixou-se à deriva por instantes, enquanto aquela baleia seguia o seu rumo, voltando a erguer uma porção de água um pouco mais à frente. Eu estava absorta, como se não existisse mais nada à minha volta. Tinha prometido uma fotografia porém, nem me lembrei de pegar na máquina. Continuava perplexa. Só conseguia olhar para Ela e absorver tudo o que acontecia. Afinal, era uma baleia! Consegues perceber? É que não se tem um encontro destes todos os dias…
Mas não duvides! Mesmo sem fotografias, eu vou lembrar todos os contornos daquele cenário impossível de esquecer.
Hoje, um ano depois, onde andarás tu a vaguear? Poderei eu encontrar-te aqui também?

terça-feira, 1 de maio de 2012

miss you

Não te ouço. Não te consigo ouvir. O que é que se passa? Faz demasiado frio aqui, é isso?
Bem, se é pelo frio, eu compreendo. Mas não deixo de sentir a tua falta.
Estiveste sempre bem perto de mim. Desde que me lembro, mesmo desde criança. Observando tudo à tua volta lá do alto do teu ninho ou pousada nos arrozais, em busca de algum pequeno vertebrado mais desatento.
De repente, tudo muda. Não te vejo nem te ouço. E já lá vai tanto tempo que eu me encontro sem ti. Tenho saudades. Sim, tenho muitas saudades.
Aqui também estou rodeada de aves mas não há nenhuma que, como tu, me desperte com o seu frenético noc-noc-noc-noc-noc-noc ao bater o bico. Isso só tu sabes fazer!
O meu acordar não é o mesmo sem ti. Os meus passeios não podem ser iguais.
E mesmo não sabendo se aprecio mais a tua vaidade ou o teu jeito preguiçoso, a verdade é que sinto a tua falta e sinto falta do que me fazes sentir.
…wishing to see you soon :-)