Parou
de chover há três dias e neste recanto onde o rio se começa a aproximar do mar
já se sente a diferença.
O
nível da água baixou e vêem-se agora centenas, talvez milhares, de pegadas
desenhadas no lodo. São pegadas de aves na sua maioria e uma ou outra de
lontra. São as marcas das suas delicadas patas que aqui ficam impressas nesta
espécie de lama. Nada de grave. Mostram apenas trilhos, o caminho que cada um
seguiu.
Contudo
deparei-me também com outras pegadas. São pegadas um tanto ou quanto estranhas,
devo dizer. Ainda não consegui encontrar nada sequer parecido em nenhum dos
meus guias de campo. Talvez o leitor possa
dar uma ajuda.
Pois
bem, uma dessas esquisitas pegadas assemelhava-se a uma embalagem de plástico
ainda com alguma coloração e cujo conteúdo teria sido um dia bolachas
digestivas (para peixes, obviamente!). Mas dói-me muito pensar que o peixe
tenha deixado ali aquele plástico, afinal ele sabe que há locais próprios para
o depositar.
Outra
intrigante pegada surgiu um pouco mais adiante e parecia-se com uma lata de um
qualquer refrigerante. Como foi a lontra capaz de uma atrocidade destas? Também
posso estar a ser injusta. Talvez ela não tivesse terminado a sua bebida e deixou
ali a lata para beber mais tarde. Pode ter sido isso…
Nas
margens do rio, os arbustos abrigam dezenas de sacos plásticos, garrafas e
outras pegadas igualmente estranhas. Isto de certeza que foi obra dos patos.
Todos sabemos que eles se divertem imenso com este tipo de brinquedos.
Parece-me
que algo de muito grave e preocupante está a acontecer à vida dulçaquícola e
marinha. Estes animais estão a adotar um comportamento inqualificável. Sim, os
animais. Porque eu não acredito que nenhum de nós pense que os rios e os oceanos
aproveitam o nosso lixo.