quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

ERASER

Eu não sei qual foi a paixão que.
Eu não sei para onde voou a paixão ou se fui eu que voei. Eu não sei. Mas lembro-me da magia daquele lugar, onde tantas vezes escrevi e, do nada,  apeteceu-me voltar a escrever!
Já não tenho todo o cenário encantado à minha frente, nem o mesmo frio ou aquele brilho tímido do Sol. Apenas um novo frio, mais frio, ao qual me tento acostumar a pouco e pouco numa cidade perfeitamente comum, despida de emoção.
Talvez ainda não seja este o meu lugar. Mas hoje voltei a escrever. J   

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Nuvens


Foi devagarinho que fui sentindo chegar o tão esperado regresso e que, passo por passo, conjugando a saudade do que fica e a inevitável felicidade do que virá, fui arrumando toda uma nuvem de sentimentos e desejos.
Pelo caminho, outras nuvens foram surgindo. As nuvens que se vêm através da pequena janela do avião e as nuvens que se vêm através da janela do carro. Tamanho contraste. Primeiro, um tapete de nuvens brancas que fazem lembrar algodão doce; depois uma imensa nuvem de fumo carregada de tonalidades sombrias. Nada agradável!
Infelizmente é esta nuvem de tonalidades sombrias que faz questão de me acompanhar quase até à porta de casa. São estas nuvens e as paisagens devastadas que mais despertam a minha atenção durante aquela viagem e que vão deixando os meus desejos um pouco à deriva.
Por mais que já estivesse à espera, não deixa de ser triste e desolador. Mas é mesmo assim regressar a Portugal no Verão. De repente, voltar a recordar que esta nuvem cinzenta vai pairar dia após dia, ano após ano. É duro demais.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Despedida à chuva

Dolphins, Stoke Gabriel: a chuva, o sol, o arco-íris, as estrelas e eu
Foi embora o Maio e com o Junho regressou a chuva. Está cheia de energia, quer recuperar todo o tempo que perdeu e, para se vingar, não deixa sequer que uma pontinha de sol a acompanhe.
Consequentemente, aquelas magnificas sete cores  em arco que frequentemente apareciam no horizonte e que davam outro ânimo ao fim do dia, deixaram de se ver.
Lá em cima, no céu, as estrelas estão umas dorminhocas. Agora é preciso esperar pelas 10:30 pm para as ver brilhar. Mas vale a pena esperar. É um céu limpo como não é muito fácil de encontrar.
E eu estou de partida. Vou ao encontro do sol. Mas levo-te comigo.

sábado, 16 de junho de 2012

Anywhere

As coisas impressionantes que há. Em qualquer parte do mundo, há sempre alguém com a extraordinária capacidade de ler nas entrelinhas.
*Please, do not feed the animals / *Por favor, não dê comida aos animais
Esta será provavelmente a mensagem mais conhecida de todos os que frequentam jardins, parques, jardins zoológicos,… E, esteja escrita em que língua estiver, muitas pessoas conseguem deslindar que, o que a mensagem pretende transmitir exatamente é: Os animais estão esfomeados. Por favor, dê-lhes alguma coisinha que comer.
É por isto e só por isto que por vezes (muitas vezes) (DEMASIADAS VEZES!) se vêem pessoas a dar pão aos patos, migalhas aos pombos, bolachas aos ursos,…  Tudo não passa de uma hábil capacidade de ler nas entrelinhas. MAS, se o leitor não possui esta capacidade, por favor não fique preocupado. Estou certa de que terá outras capacidades até melhores.
*Please, keep your dog on a lead / *Por favor, mantenha o seu cão pela trela
Mais uma vez, uma dedução sábia que se tira nas entrelinhas: Por favor deixe o seu cão ir brincar com os animais. E de repente, alguém que não possui esta capacidade pergunta: Mas quem é que permitiu que o cão fosse perturbar os animais??
São simplesmente meras questões de interpretação. Em qualquer parte…

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Seasons

E porque tudo muda, achei que devia voltar a Berry Head.
O lugar tímido e de tonalidades sóbrias onde as aves cantam a medo, que conheci em Fevereiro, tirou o casaco, arrumou o guarda-chuva e transformou-se num alegre e vistoso palco.  
Orquídeas, falcões peregrinos, airos e golfinhos são os protagonistas nesta época do ano.
As orquídeas, espalhadas pelo solo, vestem-no de beleza e magia. Os airos, esses tagarelas que revestem parte da falésia, discutem a vida dos vizinhos incessantemente. Claro que também fazem uma ou outra pausa de vez em quando para pescar. Os falcões mantêm a sua pose séria e indiferente. No vaguear dos seus pensamentos talvez se interroguem em que é que os airos tanto falam! E depois no mar, estão os golfinhos a brincar. São as estrelas do último ato.
Vontade de assistir?  Não há dois espectáculos iguais. Porém, se todos formos responsáveis, estes artistas poderão continuar a  atuar e reinventar novas peças a cada dia durante vários anos.  
Afinal, é só mais um lugar demasiado especial. Precisa que o tratem bem e que o deixem repousar.

domingo, 13 de maio de 2012

Footprints

Parou de chover há três dias e neste recanto onde o rio se começa a aproximar do mar já se sente a diferença.
O nível da água baixou e vêem-se agora centenas, talvez milhares, de pegadas desenhadas no lodo. São pegadas de aves na sua maioria e uma ou outra de lontra. São as marcas das suas delicadas patas que aqui ficam impressas nesta espécie de lama. Nada de grave. Mostram apenas trilhos, o caminho que cada um seguiu.
Contudo deparei-me também com outras pegadas. São pegadas um tanto ou quanto estranhas, devo dizer. Ainda não consegui encontrar nada sequer parecido em nenhum dos meus guias de campo.  Talvez o leitor possa dar uma ajuda.
Pois bem, uma dessas esquisitas pegadas assemelhava-se a uma embalagem de plástico ainda com alguma coloração e cujo conteúdo teria sido um dia bolachas digestivas (para peixes, obviamente!). Mas dói-me muito pensar que o peixe tenha deixado ali aquele plástico, afinal ele sabe que há locais próprios para o depositar.
Outra intrigante pegada surgiu um pouco mais adiante e parecia-se com uma lata de um qualquer refrigerante. Como foi a lontra capaz de uma atrocidade destas? Também posso estar a ser injusta. Talvez ela não tivesse terminado a sua bebida e deixou ali a lata para beber mais tarde. Pode ter sido isso…
Nas margens do rio, os arbustos abrigam dezenas de sacos plásticos, garrafas e outras pegadas igualmente estranhas. Isto de certeza que foi obra dos patos. Todos sabemos que eles se divertem imenso com este tipo de brinquedos.
Parece-me que algo de muito grave e preocupante está a acontecer à vida dulçaquícola e marinha. Estes animais estão a adotar um comportamento inqualificável. Sim, os animais. Porque eu não acredito que nenhum de nós pense que os rios e os oceanos aproveitam o nosso lixo.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Give Way

Passou um ano desde o nosso primeiro encontro.
Faz precisamente hoje um ano que tive um dos momentos mais mágicos de toda a minha vida. O encontro com uma baleia.
Estávamos em pleno Atlântico. O Sol já se escondera; o escuro começava a pairar. E é neste lusco-fusco que, sem qualquer aviso, uma baleia resolve aparecer.
Uma baleia-de-bryde a vaguear sozinha, feliz e independente. Um magnífico sopro a celebrar aquele fim de tarde.
O veleiro parou e deixou-se à deriva por instantes, enquanto aquela baleia seguia o seu rumo, voltando a erguer uma porção de água um pouco mais à frente. Eu estava absorta, como se não existisse mais nada à minha volta. Tinha prometido uma fotografia porém, nem me lembrei de pegar na máquina. Continuava perplexa. Só conseguia olhar para Ela e absorver tudo o que acontecia. Afinal, era uma baleia! Consegues perceber? É que não se tem um encontro destes todos os dias…
Mas não duvides! Mesmo sem fotografias, eu vou lembrar todos os contornos daquele cenário impossível de esquecer.
Hoje, um ano depois, onde andarás tu a vaguear? Poderei eu encontrar-te aqui também?